Para quem não acompanha Facebook, uma carta escrita pela comunidade guarani fala em morte coletiva, por conta da situação de miséria que nenhum sul-mato-grossense pode fingir desconhecer. Alguém interpretou o texto como “suicídio coletivo” e daí surgiu a mobilização "urgente" para “salvar” os índios, pedir demarcação...
Hoje, até a figura de Luan Santana entrou na conversa, o que de pronto foi respondido pela assessoria dele. "De onde você tirou".
Todo mundo "tirou" de uma reportagem falsa postada na internet garantindo que o cantor decidiu nunca mais fazer shows em Mato Grosso do Sul em apoio à causa indígena.
Um astro com perfil de Luan Santana teria tamanha revolta? Mas como tudo dito nas redes sociais vira verdade, teve gente que acreditou e saiu escrevendo comentários do tipo: “Nossa, subiu no meu conceito!”
Primeiro esclarecimento: o jornal da suposta reportagem, o Diário Pernambucano, é uma versão do tipo “100% sarro”. Dia desses, a manchete era a construção de uma ponte que ligaria Porto Seguro a Fernando de Noronha.
Segundo ponto: no momento, Luan está mesmo interessado em conquistar o mundo.
Bem grande, no perfil do cantor no Facebook a frase comprova: “Depois de conquistar o seu País, chegou a vez de conquistar o mundo”, sobre turnê internacional que começou por Angola, segue em novembro pelos Estados Unidos e termina em Portugal.
Para os fãs preocupados, a assessoria garante: o lugar onde Luan mais gosta de estar é em Mato Grosso do Sul. Mas vamos ser justos com o menino. Quantas estrelas no Brasil estão ligando para os índios de Mato Grosso do Sul? Quantas pessoas realmente dão importância ao que o povo guarani precisa? Dá para crucificar o Luan Santana?
E para quem quer saber o que é verdade, segue a carta dos índios de Mato Grosso do Sul:
Nós (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, viemos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de da ordem de despacho expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, do dia 29 de setembro de 2012. Recebemos a informação de que nossa comunidade logo será atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal, de Navirai-MS.
Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy onde já ocorreram quatro mortes, sendo duas por meio de suicídio e duas em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas.
Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência, isolados, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados.
Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui.
Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos.
Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário